Pensar demais pode ser um problema
Não é segredo que, embora todos cometam erros, os maus jogadores os cometem com muito mais frequência do que os bons. De erros conceituais (como não saber quando ser o agressor, estabelecer uma troca vantajosa, etc) a pequenos detalhes (como esquecer de atacar ou contabilizar errado a sua mana), todos são cometidos em maior quantidade por jogadores inexperientes. Existe um tipo de erro, entretanto, que é mais provável de ser cometido por jogadores bons e experientes: pensar demais. Meu artigo desta semana examinará o que é pensamento excessivo e como isso pode ser prejudicial ao seu jogo.
Ao longo da minha experiência em Legends of Runeterra, tive a oportunidade de conhecer muitos jogadores e discutir sobre os mais variados assuntos. Há uma coisa sobre a qual conversei com muitos jogadores deles, e a maioria deles parece ter a mesma opinião: muitas vezes, quanto mais você pensa, maior a chance de cometer um erro. Não me interprete mal: é claro que você deve pensar, especialmente se for a primeira vez que você se deparou com a situação. Não estou dizendo apenas para jogar suas cartas na ordem em que as vê. O que estou dizendo é para pensar no quanto você precisa, mas não mais, e nada mais. Um exemplo:
Imagina que um jogador, chamado "João", está na última rodada de um sazonal jogando uma mirror de Ezreal / Draven
. Ele fica com uma mão com o campeão de PnZ, Raxinim Grandona
e duplo Disparo Místico
. Ao chegar no turno 3, com o token de ataque e uma Aranha Doméstica
na mesa, ele baixa o Ezreal
diante de outra Aranha Doméstica
do adversário, que então responde com Golpe Expurgante
. Alguns turnos depois, "João" perdeu. Acompanhando a partida, alguém aponta que ele deveria ter segurado o Ezreal
em sua mão por mais algum tempo, uma vez que ele sabia que seu adversário roda Golpe Expurgante
.
Assim... Alguém ruim não faria isso e sequer consideraria a possibilidade. Para alguém fazer esta jogada, a pessoa deve se lembrar do Golpe Expurgante do deck do seu adversário e deve identificar que segurar o campeão com 1 de ataque por alguns turnos até encaixar um Draven
e ter backup da Revolução do Machado
asseguraria uma das suas principais condições de card advantage e vitória. No entanto, nesta situação, a jogada do jogador ruim seria totalmente correta, e a jogada indicada pelo espectador horrível.
É óbvio chegar a conclusão de que se tudo ocorresse como ele pensava: ou seja, o oponente tem Golpe Expurgante enquanto você compra um Draven
no turno posterior, seu adversário poderia eventualmente gastar o Golpe Expurgante
em sua aranha, ou então, ao passar e desperdiçar 3 manas, você poderia comprar o Draven
e aí você obteria o benefício de poder baixar o Ezreal após acumular três Revoluções do Machado em sua mão, dedicando-se durante o resto do jogo à proteger-se dessa carta. E se o seu adversário tivesse também um Anime-se!
?
Enquanto o espectador estava se esforçando para chegar ao "jogo profissional", ele ignorou completamente todo o resto. Ou seja, seu cenário não é o mais provável de acontecer e, mesmo que aconteça, sua vantagem não é grande, enquanto as consequências são desastrosas se as coisas forem diferentes.
Mas não é só algumas pessoas que podem se dar ao luxo de fazer jogadas horríveis. Todo mundo tem sua contribuição para a biblioteca de erros do LoR competitivo. Isso acontece por que? As pessoas são burras? Não, mas elas geralmente estão com a cabeça ocupada por outras coisas. Seja tentando inventar a jogada perfeita, sendo considerando toda e qualquer possibilidade do jogo, consequências de ações, entre outros assuntos que não eram relevantes no momento.
Em alguns cenários do jogo, temos muito em que pensar. Não apenas por ser a virada decisiva de uma partida, mas por definir o seu plano de jogo e a estratégia que você irá adotar pra abordar um adversário. Em alguns casos, é muito comum utilizarmos a chamada memória operante, que também é conhecida como memória de curto prazo. Ela contém informações relevantes para o desempenho e garante o foco na tarefa. É o que nos permite lembrar e recuperar informações de uma etapa inicial de uma tarefa longa, como fazer uma jogada complicada. É o que te faz pensar, talvez até inconscientemente, se você deve jogar o Disparo Místico na Aranha Doméstica
do adversário ou se deve guardar as duas cópias para responder Draven
ou outra ameaça e depois não ter de pensar novamente em alvejar a Aranha. É este tipo de memória que sela o processo na mente da gente, tornando-o algo coeso e conectado. Está é, aliás, a razão pela qual pessoas mais capazes são propensas a piorar sob pressão: elas normalmente usam completamente a sua memória operante e não podem poupar qualquer espaço dela para pensar em qualquer outra coisa, enquanto pessoas que não a usam não irão sentir falta. Elas farão um trabalho ruim se estiverem sob pressão, mas não será diferente do que normalmente fariam.
Como você pode perceber pelo parágrafo anterior, existem limites para a memória operante. Se eu pedir para você multiplicar 15 X 15, provavelmente você poderá fazer isso porque se lembra dos resultados de pequenas operações e os soma. Você não multiplica 15 X 15 em si, mas talvez multiplique 15 X 10, pegue a metade disso e adicione aos resultados. (150 + 75 = 225). Já se eu disser para você multiplicar 3249 X 9832, provavelmente você não conseguirá. O mesmo funciona em Legends of Runeterra. Se você tiver de pensar em algumas coisas juntas, você será capaz. Depois que você começa a levar em consideração muitas coisas, não consegue mais colocar tudo junto e sua linha de pensamento se desfaz. Isso acontece quando a situação é absurdamente complexa (e nesse caso, desejo-lhe apenas boa sorte). Isso também acontece quando você usa a sua memória operante para coisas que não importam, como fazer contas sobre passar pro Top 8 caso perca aquele jogo.
Uma coisa que você pode fazer é se preparar para as situações que enfrentará nos torneios, para que você já esteja acostumado com elas e, portanto, não perca o seu potencial pensando sobre. Ser exposto a um ambiente específico desde os estágios iniciais de aprendizagem pode, na verdade, neutralizar os efeitos negativos desses obstáculos. No futebol, há muito tempo uma controvérsia existe sobre permitir jogos internacionais em cidade altitude severas, como La Paz, que está há 3.700m acima do nível do mar. Para a seleção brasileira de futebol jogar lá, precisam chegar com antecedência, realizar diversos treinos, mas ainda assim, não estarão tão bem preparados quanto os próprios bolivianos, que nasceram e vivem naquela região.
No final das contas, isso não pode ser completamente evitado já que somos humanos e não máquinas e a psicologia fará parte do jogo, não importa o que aconteça. Sendo assim, da próxima vez que você ver uma jogada horrível, como alguém matar sua própria unidade ou não jogar uma unidade na rodada 3 no tabuleiro vazio, não se apresse em pensar que aquele jogar não merece estar na posição em que está e que ele não pensou na sua linha de ações. Provavelmente ele pensou em tantas coisas que o mais óbvio acabou esquecido em algum canto de sua mente enquanto ele passava por todas as situações possível que poderia encontrar em busca da melhor jogada.