The Eye of the Tiger – Como treinar efetivamente no LoR

Tenho 32 anos e uma coisa comum entre a galera da minha idade é ter crescido moldado pelos filmes que eram exibidos na sessão da tarde. Eram outros tempos em que a violência de Robocop era exibida sem maiores problemas logo após o capítulo de A Viagem, que mais uma vez era exibido em Vale A Pena Ver de Novo.

E um dos filmes que eram comumente exibidos era Rocky. Embora a maioria das pessoas saiba que é um filme de boxe e uma porção saiba que é um filme sobre superação, tanto na frente quanto atrás das câmeras, ainda é mais do que isso. Não fiquem chateados por spoiler de um filme de 1976, mas em Rocky e nas sequências vindouras, você tem uma fórmula que é muito comum nas mais diversas mídias.

Rocky é apresentado, ele é colocado contra um obstáculo intransponível, em seguida vai apanhar, levantar, treinar, treinar, treinar, desafiar novamente o “obstáculo intransponível” e finalmente vencer (não antes de apanhar muito de novo). Sim, eu sei que no Rocky original ele não vence no final contra Apollo Creed. Mas todos sabemos que ele venceu nos nossos corações. É isso que importa.

A palavra-chave aqui não foi repetida à toa. Rocky nunca desiste e continua a treinar incansavelmente para poder vencer sua luta. Se o filme for muito antigo pra você, Goku treina a todo momento da vida dele (usando as roupas pesadas), nunca assisti Naruto, mas sei que ele teve um velho mestre chamado Jiraya que também o treinou e o ajudou a superar algum desafio.

E agora é a sua hora de subir as escadarias da Filadélfia e esmurrar carne congelada enquanto uma música good vibes que te coloca pra cima toca ao fundo.

Rocky Balboa no topo das escadarias da Filadélfia (Rocky II)
São 511 perdedores para cada vencedor.

A comunidade de Legends of Runeterra está crescendo. Enquanto assistia o Piui na stream dele ontem, o ouvi comentar que os torneios que ele participava há um mês possuíam 40 e poucos participantes e o Duels of Runeterra desta semana está lotado com 512 competidores. Essa realidade, felizmente, vai tornar-se cada vez mais comum.

No Magic: The Gathering, card game que dediquei a maior parte da minha vida enquanto jogador e juiz, os Grand Prix, os maiores torneios do jogo, possuem em torno de 2 mil participantes. O maior deles já realizado, em 2015, reuniu 7.551 competidores presencialmente em Las Vegas. Só pra deixar óbvio: são normalmente 1.999 perdedores para cada vencedor e haviam 7.550 perdedores em Vegas (o que não é exatamente novidade na terra dos Cassinos).

Existe uma verdade absoluta quando vemos números tão grandes surgindo no cenário competitivo. Se são 512 participantes e apenas um primeiro lugar, vai ser muito mais comum você ser um perdedor que um vencedor e é muito importante aprender a lidar com isso.

E não tem problema em ficar triste ou desapontado com uma derrota. Inclusive, quando isso acontece é um sinal de que você se importa com a partida, com o jogo ou com o torneio. No entanto, você não deve ficar “remoendo” essa ou qualquer derrota, por mais que fosse a final do mundial valendo milhões de dólares. Isso só vai te deixar infeliz e atrapalhar o seu crescimento. E estamos aqui treinando para nos tornar melhores jogadores.

É bem normal os jogadores profissionais dos jogos de cartas responsabilizarem a si próprios e seus erros de julgamento pela maior parte dos jogos que perdem. No entanto, ao refletir sobre a derrota, não o fazem com o objetivo de sentir-se mal, mas com o objetivo de evitar o mesmo problema no futuro. Lembram do artigo da semana passada? Da pergunta mais importante no jogo? Responda: “por que o seu oponente venceu aquela partida?”.

E já adianto que embora “sorte” seja uma resposta fácil, raramente será a resposta certa.

Agora, se você já está apto a perder e aprender com as derrotas, você já está apto a treinar.

Just give me a reason

Você pode estar tendo agora uma sensação de déjà vu… Mas é sério. Quando você treina, você treina pra chegar a uma conclusão. Pode ser a mais comum do mundo: “será que esse deck maluco que acabei de criar funciona?” e é ótimo vir com novas ideias para quebrar o meta. Mas lembre que você não irá chegar a conclusão nenhuma se o seu parceiro de treinos também chegar com o deck maluco que ele acabou de criar.

Por mais que possa ser divertida a matchup entre Poros e Gatástrofe, isso dificilmente acontecerá na fila ranqueada, ou pelo menos na fila ranqueada do tier Mestre. Teste os seus decks contra decks “do meta”.

Isso dá certo?

Quando você treina, você quer descobrir se determinada ideia não é apenas plausível, mas possível. Foi bem comum nos últimos dias adicionarem respostas a decks de Piltover/Zaun nas mais variadas listas. Se você quer saber se a Health Potion/Poção de Vida adicionada em seu Bannerman vai melhorar a partida contra o temido aggro, você tem que jogar e avaliar o resultado da carta.

Você ganhou ou perdeu quando a Health Potion não veio? Quanto de vida você tinha? Quanto de vida o oponente tinha? Como a presença da carta na partida alterou isso? Vale a pena buscar ativamente pela carta na sua mão inicial a ponto de abrir mão de outras cartas? Quais cartas valem a pena serem tiradas em detrimento da Health Potion?

São muitas perguntas, mas o treino vai internalizar e automatizar se não todas, mas a maioria dessas tomadas de decisão.

Quando você for treinar, prefira treinar contra o melhor.

Entenda que o foco, durante o treino, é o seu deck, sua ideia, sua tech. E você deseja que do outro lado, você tenha o maior obstáculo possível para ultrapassar. Sendo assim, você necessariamente quer jogar contra o melhor deck do meta.

Afinal de contas, se você conseguir criar um deck que é o segundo melhor do meta, você ainda vai ficar potencialmente atrás de todos os jogadores que decidirem jogar com o melhor deck do meta.

Você não precisa de muitas partidas para descobrir se o seu deck tem uma chance contra “o melhor deck”. Se você consegue identificar uma carta que te quebra em cada partida, faça alterações para tentar vencê-la. E se você não identifica um único culpado pela sua derrota, provavelmente o seu deck é apenas pior que o deck to beat e você nem precisa gastar mais tempo ali.

Mas, de um modo geral, analise o seguinte: se tudo deu certo pra você na partida e você ainda assim não venceu, então provavelmente você nunca vai vencer. Se todas as condições para uma carta funcionar da forma ideal funcionaram e ainda não foi bom o bastante, provavelmente nunca vai ser bom o bastante.

Treine COM e não CONTRA outras pessoas.

O foco, ao treinar, é melhorar enquanto jogador ao entender melhor o funcionamento de determinado deck ou de determinada matchup. Por isso, é importante que os decks sejam usados corretamente e, se você perceber um erro sendo cometido por um oponente, aponte, explique. Se necessário, encerre aquela partida, uma vez que ela está “contaminada”.

Isso não só trará melhores dados para serem analisados como também fará o seu parceiro de treinos entender problemas e melhorar ainda mais.

Business Intelligence não é necessariamente sobre números.

Pra quem não sabe, um dos termos do momento hoje é o chamado Big Data, basicamente grandes conjuntos de dados que podem ser analisados por programas para que auxiliem certas tomadas de decisão nas mais diversas áreas.

No entanto, o que faz esse Big Data ser algo valioso, não é você ter muita informação. É você poder interpretar tanta informação. De nada adianta você coletar toneladas de dados, se você não sabe sequer as perguntas que gostaria de responder fazendo uso destes dados.

Imagine que você está treinando com um amigo e jogando de Bannerman contra Ez/Karma. Após 10 partidas, vocês chegaram ao resultado de que Karma venceu 7 partidas e o Bannerman venceu 3. 70% de win rate na matchup.

O que isso significa?

Agora imagine que você está treinando com um amigo e jogando de Bannerman contra Ez/Karma. Após 100 partidas, vocês chegaram ao resultado de que Karma venceu 70 partidas e o Bannerman venceu 30. 70% de win rate na matchup.

O que isso significa?

Em ambos os casos, e sinto quebrar expectativas, não significa muita coisa… Embora os resultados sejam importantes, é mais importante chegar a conclusão do porquê daqueles resultados acontecerem. Se você não entender o porquê do problema, você não pode corrigir o problema.

E no final tudo é sobre parcerias.

O primeiro passo para você poder treinar é uma parceria. Você encontrar alguém com um interesse semelhante de jogar LoR melhor. Ao encontrar o seu parceiro ou parceira, estabeleça uma rotina de treinos, seja diária, seja semanal, mas tente criar o hábito de passar algumas horas analisando o jogo com essa pessoa. Crescer a aprender junto é um processo muito mais fácil e prático do que sozinho.

Legends of Runeterra é um jogo que ainda está muito no começo. Existem pouquíssimos times por aí. E a formação de uma equipe de treinos não vai limitar-se apenas ao apoio mútuo entre os jogadores, mas também oferece um ponto de partida para entender mais do jogo, atacar o metagame de um torneio específico e, no final, não estar entre os 511.

Agora saia daqui e encontre o seu parceiro ou parceira de treinos.

Muito obrigado pelo suporte e até semana que vem! (ou a próxima stream!)

Vic

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[Artigo publicado originalmente no dia 19/05/2020 para os inscritos do canal ViktorKavBR na Twitch]

Acesse http://twitch.tv/ViktorKavBR

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