Ato II de Arcane: crítica e review
Após sete dias de espera, temos mais três episódios de Arcane, a primeira série animada no universo de League of Legends (e Legends of Runeterra), disponibilizados através da Netflix. O chamado Ato II aprofunda diversas das tramas enquanto nos mostra a evolução do mundo apresentado na semana anterior.
Confira o review em vídeo abaixo ou siga para a versão escrita.
Começamos o Ato II avançando alguns anos no futuro, bem a tempo das festividades do Dia do Progresso!. A data também marca o aniversário de 200 anos de fundação de Piltover e será a primeira vez, ou a primeira vez em muito tempo, que Heimerdinger
não fará o discurso de apresentação das festividades. Como Jayce
é celebrado atualmente como o "Homem do Progresso", ele ficará responsável pela apresentação. O personagem já é celebrado como um dos gênios da cidade por conta da criação do Portão Acelerador
, um mecanismo que permite transporte rápido entre pontos e colocou Piltover nas principais rotas de comércio de Runeterra.

Durante o período em que houve a passagem de tempo, de aproximadamente 7 ou 8 anos, Jayce e Viktor
seguiram aprimorando a tecnologia desenvolvida a partir do Cristal de Hexita
e conseguiram encapsular a energia numa gema, o que permite um uso bem mais seguro e também portátil de dispositivos energizados.
Durante a apresentação da nova tecnologia para o Professor Heimerdinger, os cientistas mostram ferramentas de artífices e trabalhadores da cidade energizadas com a nova fonte de energia e temos um primeiro vislumbre de uso bélico dos recursos. Tanto a Garra / Raio da Morte – Mk 1
do Viktor
quanto as Manoplas de Atlas // Quebra-Cofres
da Vi
aparecem na cena.

Heimerdinger comenta então sobre necessidades de uma maior segurança na tecnologia e indica que mais trabalho precisa ser feito: algo na faixa de uma década. Aqui, nós começamos a observar uma diferença na visão do Jayce
à do Heimerdinger
. Algo que, até então é entendível, uma vez que o professor Yordle está vivo há pelo menos 310 anos e tem uma visão de tempo completamente diferente de um humano comum. Enquanto isso, passamos pela subferia e descobrimos que o Silco tornou-se o mandatário da região, solidificando a distribuição da droga Cintila, substância chave do arco anterior da série mas que até então não tinha um nome definido.
Dentro da narrativa do Ato II, nós temos um pequeno problema de repetição em relação aos dispositivos de trama que moveram os primeiros três episódios da série da Netflix. Enquanto no Ato I os acontecimentos se desenrolaram a partir de um roubo feito por Vi e seus amigos, dessa vez a faísca responsável é a Jinx
roubando novamente uma tecnologia do Jayce
.
É exatamente o mesmo plot device que também desencadeia vários dos arcos que ainda não são fechados dentro deste ato. Um problema recorrente de histórias contadas em três partes. Não foi diferente com As Duas Torres, Matrix Reloaded ou O Império Contra Ataca…
Comentando um pouco sobre outros personagens, a Caitlyn é bastante aprofundada durante o Ato II e temos um vislumbre da dedicação que a transformará na futura Xerife da cidade. Ao perceber que há crime e corrupção acontecendo no lado alto e na subferia, a então defensora inicia uma investigação por conta própria de uma situação que estava sendo encobertada pelo Xerife Marcus, personagem que conhecemos no ato anterior e que agora vemos completamente vendido ao sistema e fazendo vista grossa às ações do Silco.
A química entre Vi e Caitlyn
, a medida que é desenvolvida aos poucos ao longo do Ato II, tem pontos altos, como a situação no bordel e uma aparente descoberta da orientação sexual de uma das personagens, mas também soa artificial, como quando Vi chama a futura colega, com quem ainda não possui uma intimidade construída, por "Cupcake". Não soa como a Vi
endurecida que vimos ser construída ao longo do Ato I e que está há anos presa.
Um dos pontos interessantes durante a incursão das personagens pela subferia é que apesar da estrutura de Zaun ter permanecido mais ou menos intacta nestes anos, com os mesmos prédios, comércios e figuras, a vibe da subferia está notavelmente diferente. Há uma sensação diferente na cidade desde que a vimos pela última vez, ainda com o Vander como líder. A mudança do bar Last Drop é só o ponto mais óbvio de diversas trocas, sutis ou não, no visual do cenário.
Voltando às tramas do lado alto, achei muito interessante a dinâmica de diálogos entre Jayce e Mel, personagem parente de Jae Medarda
e que se coloca diversas vezes como inferior dentro da família, apesar do claro controle sobre o conselho. Enquanto o cientista faz as vias de tritagonista (ou orelha), descobrindo (junto conosco) várias das relações políticas de Piltover, o trecho acontece de uma forma didática demais, principalmente para uma construção que é rasa e óbvia: "o dinheiro é quem manda". Essas políticas, inclusive, vão constituir uma parte importante do Ato II.

Inclusive, num claro exemplo de "cair pra cima", Jayce, que pela segunda vez em dois atos é roubado e acaba prejudicando a segurança de Piltover acaba sendo agraciado com um posto de conselheiro, numa canetada até então inédita na história da cidade e que só demonstra o poder de persuasão de Mel Medarda frente ao conselho de Piltover. A situação ilustra também a diferença de tratamento enquanto Jayce
não tinha prestígio e foi quase expulso de Piltover e agora, quando recebeu um "julgamento" diametralmente oposto ao anterior.
Um dos arcos que também temos o início de desenvolvimento neste Ato II diz respeito à piora no estado de saúde do Viktor. Desde o começo desta leva de episódios pudemos ver o personagem fazendo uso de muletas ou dispositivos para facilitar sua caminhada. Particularmente gosto do fato de que há uma preocupação genuína do Jayce
pelo amigo e sócio, embora ele passe a se ver mais envolvido com questões políticas desde a sua ascensão ao conselho. Não a toa, temos uma cena que, enquanto o Viktor
trabalha na bancada de pesquisa, Jayce
está se olhando no espelho.
No último trecho do ato, temos momentos mais intensos no que diz respeito tanto à ação, quanto emoção. Seja no reencontro das duas irmãs: um momento muito bem construído mas que, como esperado, não termina da melhor forma. Ou seja no golpe sofrido pelo Heimerdinger, ao se ver removido do posto de conselheiro por quem ele ajudou a colocar lá.

Em resumo, o Ato II faz um bom trabalho no desenvolvimento da história, embora não se dê ao trabalho de fechar qualquer uma das tramas criadas até agora em Arcane. No entanto, tenho ressalvas à decisão de inserir clipes musicais em alguns trechos dos episódios. Por mais que eu goste da trilha sonora da série, me soou forçado e me tirou da imersão daquele universo ouvir Imagine Dragons ou Get Jinxed nos momentos em que as trilhas foram inseridas. A série já me constrói um mundo suficientemente rico para que não haja necessidade de um fan service tão escancarado.
Vamos aguardar pelo próximo Ato, que vai ao ar no dia 20 de novembro na Netflix.