A pergunta que define o jogo

Se alguém me pergunta o que gosto de ouvir, costumo responder que sou um grande fã de música. Não de um gênero específico, mas de música de uma forma geral. Acho incrível como matemática e arte se misturam e criam sensações, sentimentos e evocam memórias na cabeça da gente. E acaba que, por isso, eu ouço de tudo. De tudo mesmo: da música mais brega do interior do Nordeste brasileiro até um metal progressivo japonês obtuso tocado numa afinação pouco convencional que faria Bach se revirar no túmulo.

Nessa de ouvir de tudo, também gosto da música pop comercial. E apesar de ser comumente acusada de "seguir uma fórmula" e "não ter alma", muitas vezes produtores e intérpretes se dedicam para que a gente não perceba esse padrão e o efeito pretendido de sentimento e emoção aconteça. Em 2013, a cantora Pink lançou um single que, durante algum tempo, ficou no topo das paradas de sucesso, incluindo a Billboard Hot 100, uma das principais do mercado fonográfico. O nome desse single é o tema do artigo de hoje.

"Just Give Me a Reason"

Se você não fala inglês, o termo acima significa, numa tradução livre, "só me dê um motivo". Com um pouco de imaginação e tirando um pouco da poesia e história contida na frase, a gente pode reduzir essa frase inteira para um termo bem cotidiano:

"Por quê?"

Essa é a pergunta mais importante para que cada um de nós possa melhorar enquanto um jogador de Legends of Runeterra. Ela deve orientar cada uma das nossas tomadas de decisão.

É ao perguntar "por quê?" que você deixa de ser apenas alguém colocando cartas na mesa para ser um jogador ou jogadora tentando ganhar a partida de fato. Se, na próxima vez em que você estiver jogando LoR, você fizer determinada jogada e não conseguir responder a alguém o porquê de tê-la feito, você não está pensando ativamente na partida e, em muitas situações dentro do jogo, é melhor ter uma motivação errada do que não ter motivação alguma.

Afinal de contas, ao perguntar-se o porquê de estar tomando cada uma de suas decisões, você está planejando seus passos e definindo seu objetivo dentro do jogo. Você já ouviu falar dos mestres enxadristas que calculam jogadas com uma antecipação de 10, 15, 30 movimentos? Pois… Eles são mestres enxadristas porque planejam seus jogos e não o inverso. É isto o que os torna bons.

Agora, vamos ver alguns cenários e tentar fazer essa pergunta ao determinar nossas escolhas.

Você está jogando de Noxus / Demacia / Piltover em uma expedição e possui um Lucian na mesa. Seu oponente possui um Loyal Badgerbear/Texurso Leal. É seu turno de Ataque. Você tem três manas disponíveis, mas não possui cartas na mão. Seu oponente também está com a mão vazia.

Você ataca ou não? E por quê?

Parece uma pergunta muito simples. O Lucian é 3/2 e o Texurso é uma unidade 3/4. Ao atacar, o oponente irá bloqueá-lo com a unidade maior e você perderá o seu campeão enquanto o oponente continuará com a unidade dele em jogo. Aula básica de Card Advantage. Este é um cenário que a maior parte dos jogadores consegue deduzir sem qualquer dificuldade. Não se ataca nessas condições.

Agora vamos adicionar uma variável à situação mostrada:

Agora você possui um Might/Poder em sua mão enquanto o oponente não tem absolutamente nada.

Novamente, é uma situação simples. O Might/Poder cumpre a função de truque de combate e tem uma ótima sinergia com o Lucian. Se você atacar com o 3/2 e ele for parado pela unidade 3/4 do oponente, você pode usar Might para que o campeão torne-se uma unidade 6/2 com ataque rápido e sobrepujar. O que faria com que o Loyal Badgerbear inimigo fosse abatido e 2 de dano excedentes sejam causados no nexus do adversário. Se o oponente não bloquear, melhor ainda. Você causa 3 de dano ao inimigo e não gasta absolutamente qualquer carta ou mana.

Vamos adicionar outra variável para a mesma pergunta. Sim, mais uma.

Agora, além do Might, você possui um Progress Day/Dia do Progresso em sua mão e precisa dos 3 manas disponíveis para usá-la no próximo turno.

É aqui onde as coisas começam a ficar um pouco mais confusas. Eu entendo claramente que vários jogadores simplesmente prefiram atacar nesta situação, ter sua própria unidade bloqueada, jogar o Might/Poder e então causar dano no Nexus enquanto tira o Texurso adversário. Mas o que isso te ofereceu de vantagem ao seu plano de jogo? Se o oponente tinha apenas 2 pontos de vida restantes, eu entendo claramente a decisão. Mas se ele tinha 20, a história é outra…

E é por isso que você deve planejar-se: Qual o seu objetivo no jogo? Você precisa construir vantagem rapidamente? Quer evitar que o oponente domine a mesa? Prefere ter respostas o suficiente na mão sempre para poder jogar mais reativamente? Deseja que o Lucian passe de nível? Ter as respostas para essas e outras perguntas é a base para poder jogar bem Runeterra. Mas não vamos esquecer que não temos uma parede de tijolos do outro lado da tela e sim outro ser humano.

Colocar-se no lugar do oponente é o que vai lhe trazer a principal vantagem no jogo.

Enquanto faço streams, costumeiramente, como um exercício, inclusive, costumo narrar quais próximas jogadas esperar do oponente e apesar de não estar certo 100%, ou sequer na maioria das vezes, eu estou certo MUITAS vezes. Não é mágica, não é hack, é simplesmente um exercício de imaginação que me faz jogar melhor: sempre que eu tomo uma decisão, seja de jogar algo ou passar a vez, ou quando vejo o oponente jogar uma carta, eu penso sobre como seria a melhor resposta adversária possível para meu plano de jogo e eu tento mudar ligeiramente o meu plano para minimizar o efeito desta resposta.

E aí, uma vez que você aprendeu a se perguntar o porquê de estar realizando determinada jogada, você começa a também pensar na razão do adversário tomar cada ação que ele toma.

No exemplo mais clássico que eu posso trazer, se eu estou jogando com 3 unidades na mesa contra um oponente jogando de Ilha das Sombras, com uma mesa vazia, 9 manas abertas e passando a vez sem tomar qualquer ação, imediatamente eu paro de jogar novas unidades.

Muita gente que está lendo isso sabe a razão e, inclusive, aprendeu da pior forma: tomou um The Ruination/A Ruína que levou todas as suas unidades enquanto o oponente pôde se restabelecer e até eventualmente ganhar um jogo que parecia perdido.

Aprender isso pode vir por tentativa e erro num primeiro momento, mas também pode vir de uma lógica e dedução. Basta observar o que seu oponente fez e se perguntar o porquê dele ter feito aquela jogada. O oponente está deixando todas as minhas unidades com 1 de vida? Pode apostar que está vindo um Twisted Fate, um Make it Rain/Chuva de Disparos ou mesmo um Withering Wail/Lamento Fulminante por aí.

Ruination é o exemplo mais claro, mas você pode identificar jogadas que denunciam Deny/Negação, Will of Ionia/Vontade de Ionia, Thermogenic Beam/Raio Termogênico, Ledros, Brood Awakening/Despertar da Ninhada. Embora, para isso, você precise conhecer os principais decks do metagame. Isso vem com a experiência.

Por fim...

Eu entendo que muitos desses "porquês" normalmente são respondidos intuitivamente, sem necessariamente quebrar a cabeça de qualquer jogador... E isso acontece basicamente por causa de experiência e treino. É exatamente por esta razão que praticar e testar decks, matchups e situações específicas é tão importante. São esses momentos que permitem que você jogue "automaticamente" nas situações simples e corriqueiras e apenas se concentre nas escolhas que são realmente difíceis.

A partir de hoje, pare de apenas jogar cartas na mesa e comece a tomar decisões.

Muito obrigado pelo suporte e até semana que vem! (ou a próxima stream!)

Vic

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[Artigo originalmente publicado 12/05/2020 para os assinantes do canal ViktorKavBR na Twitch]

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